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Mundo

História e diplomacia ao estilo Trump

Donald Trump introduziu claramente um novo estilo na diplomacia

A essência da diplomacia é a negociação. Dito de outro modo, são os contactos entre os representantes dos Estados, por meio dos quais se procura auscultar as posições e pontos de vista desses mesmos representantes, de molde a promoverem e a advogarem os interesses políticos dos países que representam no mundo. Todo aquele que representa um país deve ser afável no trato, saber ouvir muito bem, falar pouco e sempre com acerto, culto, elegante nas palavras e destro na metáfora, além de rápido a desmontar as insídias e saber salvaguardar a confiança e um equilíbrio entre os Estados. Outros atributos terá de possuir todo o diplomata, mas estes já serão suficientes para zelar pela confiança e equilíbrio entre os Estados.

Donald Trump introduziu claramente um novo estilo na diplomacia, sobretudo devido a um certo tipo de linguagem, de resto muito utilizada nos meios de onde provém, que é a dos negócios, ou seja, a dialética do deve e do haver! Por isso, em nada surpreende o tom de ameaça que, por norma, transpira das suas palavras e visíveis no recente périplo do presidente pela Europa Ocidental. Daí um certo enraizamento de cariz nacionalista de que Donald Trump faz gala, em tudo inspirado no “America first”, slogan criado, como é sabido, por Woodrow Wilson em 1916, estava a Europa já então mergulhada há dois anos na devastadora Grande Guerra, e em cuja entrada aquele presidente se recusou até ao limite dos limites.

Uma diplomacia musculada, tão ao gosto de Donald Trump, precisa de um exército dissuasor e bem apetrechado que possa acorrer aos fogos que necessariamente tal diplomacia ateia num mundo como o de hoje. Para tal, propõe-se aumentar o orçamento militar do seu país em 54 000 milhões de dólares, concretamente em mais 9,3%. Significam estes números o maior aumento da última década, apenas comparável ao que foi levado a efeito pela administração de George W. Bush. Para contrabalançar esse aumento, Donald Trump reduziu as despesas do Departamento de Estado, gabinete encarregado das relações internacionais e equivalente ao nosso Ministério dos Negócios Estrangeiros, e que é responsável pelas missões diplomáticas e pela condução da política externa dos EUA.

Após esta brilhante proposta orçamental, circula pelas chancelarias a seguinte pergunta: sabem quem é que “aconselhou” Donald Trump a aumentar o orçamento militar e a diminuir o orçamento do Departamento de Estado? E a resposta, não se faz esperar: foi Maquiavel!

Maquiavel célebre escritor e secretário dos Assuntos Exteriores e da Guerra da república oligárquica de Florença, na sua obra mais conhecida, O Príncipe, defendia que o príncipe (chefe do governo) não podia ter outro objetivo no pensamento, que não o de preparar a guerra. Em boa verdade o conceito não é dele, pois já os romanos Antigos preconizavam Si vis pacem, para bellum, ou seja, “Se queres a paz, prepara-te para a guerra”. Por conseguinte, Maquiavel, glosando Publius Flavius Vegetius Renatus, o autor da famosa frase citada, defendia que os diplomatas deviam ser preparados para a guerra.

A inflexibilidade no diálogo e a procura do melhor momento para derrubar o adversário são, por assim dizer, características do pensamento maquiavélico, que poucos conhecem, muitos temem e outros copiam, como, por exemplo, Matteo Salvini, atual ministro do Interior de Itália.

E é na ótica de Donald Trump que tem de ser percebida a exigência que fez aos seus aliados da NATO para eles próprios subirem as despesas com a defesa para 4% dos respetivos PIB, o que não é inteiramente reprovável, se se pensar que o dinheiro que não tem sido pago aos EUA para zelarem pela defesa da Europa é utilizado para fazer negócios com a sua (dos EUA) arquirrival, a Federação Russa. Veja-se, por exemplo, o gás natural, de que a Gazprom é exportadora em 65% e que tem como uma das suas figuras principais Gerhard Schröder, ex-chanceler da Alemanha (o país mais devedor à NATO).

Seguidamente, é só enumerar os humores de Donald Trump. A exigência aos países integrantes da União Europeia de aumentos às importações de soja e de gás natural liquefeito, e a imposição de taxas aduaneiras de 25% sobre o aço e de 10% sobre o alumínio europeus.

As sanções à Turquia, membro da NATO, pela detenção do pastor evangélico Andrew Brunson, com a promessa de ações previstas na Lei Magnitski Global de 2016, a qual habilita o governo dos EUA a aplicar a pessoas, empresas ou outras instituições envolvidas em corrupção ou violação de direitos humanos em qualquer parte do mundo, a apreensão de todo e qualquer bem patrimonial (imóveis, produtos financeiros, etc.) e, simultaneamente, proibir negócios com empresas americanas e/ou restringir o acesso àquele país dos indivíduos visados pela dita Lei.

O respeito pelos princípios consignados nos tratados internacionais, de que os EUA são parte contratante, e a inerente obrigação de respeitar países e governos aliados parece não tirar o sono a Donald Trump.

Em face das novas realidades, a União Europeia precisa de encontrar novos aliados, de repensar o seu modelo de defesa e de voltar ao ideário dos fundadores da então Comunidade Europeia (a do presidente da França, René Pleven), e desse modo caminhar para a tão desejada Comunidade Europeia de Defesa de 1952, rumo à criação de um exército europeu ocidental. Só que a criação dessas forças armadas europeias não se apresenta nada fácil. Postos de lado os colossais meios financeiros que é preciso investir em tamanho empreendimento, Donald Trump e os seus conselheiros estratégicos sabem perfeitamente que a Europa de hoje, sem os EUA, nunca conseguirá defender-se dos seus múltiplos inimigos, tal como a Europa de ontem também não conseguiu defender-se deles sem a intervenção valente e decisiva da nação americana na Grande Guerra, na Segunda Guerra Mundial e, depois, na Guerra Fria.

Em suma, lições da História que a Europa nunca deverá esquecer e que a diplomacia não poderá descurar.

Fonte da Notícia
DN.PT
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