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Cultura

Língua Portuguesa A quarta língua mais falada do mundo não tem problemas de relacionamento

Entre a resistência ao português e a resistência do português, escritores de vários países lusófonos (e ainda uma prima direita galega) foram a Cabo Verde lembrar como a língua da opressão colonial se transformou na língua da afirmação para literaturas periféricas e minoritárias. E como, no processo, se habitou a conviver com a mistura.

Em 1960, a potência colonial que Portugal pretendia continuar a ser por muitos e bons séculos celebrou os 500 anos da descoberta de Cabo Verde fazendo publicar uma Antologia da Ficção Cabo-Verdiana Contemporânea organizada por Baltasar Lopes da Silva, o aclamado autor de Chiquinho (1947), e, logo a seguir, a colectânea Modernos Poetas Cabo-Verdianos, preparada e prefaciada pelo crítico, ensaísta, dramaturgo e conservador da Biblioteca Municipal da Praia Jaime de Figueiredo. Mais do que afirmar o poder de dominação do cânone português, como se pretenderia num ambiente que ainda era de glorificação do império (mas por pouco tempo: a Guerra Colonial estava só a um ano de distância), os dois volumes afirmaram sobretudo a especificidade da experiência literária cabo-verdiana no contexto da literatura portuguesa, e até no contexto da sua variante “ultramarina”, como notava então Jaime de Figueiredo – sugerindo, visionariamente, que a língua da opressão também podia ser a língua da auto-determinação (e foi mesmo).

Quase 60 anos e cinco independências depois, essa língua é hoje, com cerca de 244 milhões de falantes, a quarta mais pujante do mundo – e não tem problemas de relacionamento com o crioulo cabo-verdiano, as línguas nacionais de Angola, o tétum ou o galego, como o oitavo Encontro de Escritores de Língua Portuguesa organizado pela União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) na Cidade da Praia, com o mesmo Jaime de Figueiredo (1905-1974) como homenageado, quis enfatizar. Tem sido uma experiência inclusiva, a da lusofonia, anuíram participantes como David Capelenguela, jornalista, poeta, co-fundador da Brigada Jovem de Literatura do Namibe e membro da União dos Escritores Angolanos, ou Tony Tcheka, um dos históricos “Meninos da Hora do Pindjiguiti” que em 1977 lançaram o primeiro livro da Guiné-Bissau independente, Mantenhas para quem luta. E é uma experiência com potencial de expansão, acrescentaria ainda Concha Rousia, bibliotecária da Academia Galega da Língua Portuguesa e defensora tão feroz quanto poética de uma mudança de narrativa linguística que salvaguarde e fortaleça a consanguinidade do português e do galego, protegendo-o da hegemonia castelhana a que as políticas públicas o têm submetido.

De Cabo Verde a Moçambique, foi a escrever em português, mas contra o português, que se inventaram várias literaturas modernas. “A fundação de uma literatura da africanidade, da angolanidade”, defendeu David Capelenguela, radicou no cruzamento entre a energia de combate do movimento Vamos Descobrir Angola!, que se deu por missão desconstruir o paradigma mitificador da literatura colonial, e o contacto dos jovens angolanos do círculo da Casa dos Estudantes do Império com os movimentos do renascimento negro norte-americano e da negritude africana.

Fonte da Notícia
Jornal O Público
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