A temperatura dos oceanos é um dos mais fiéis critérios para comprovar a existência de uma emergência climática no mundo. Uma análise da revista científica “Advances In Atmospheric Sciences”, em português “Avanços nas Ciências Atmosféricas”, conclui que o aquecimento das águas acontece a um ritmo acelerado com a acumulação de gases de efeito de estufa na atmosfera. O ano passado foi atingido um novo recorde: 2019 é o ano em que a temperatura da água foi a mais elevada de sempre.
Os dados recolhidos pelos investigadores, através de 3800 estruturas “Argo” (sistema de observação dos oceanos em tempo real) e de batitermógrafos (torpedos com sensores de temperatura) lançados por navios, são preocupantes, já que o aumento da temperatura pode ter consequências práticas e imediatas. Inundações, tempestades severas e secas são alguns dos cenários esperados para os próximos anos, caso nada seja feito para inverter o problema ambiental.
Segundo este mesmo estudo, os últimos dez anos foram os mais quentes registados nos oceanos da Terra. Se todas as pessoas no mundo ligassem 100 microondas durante 24 horas, o calor daí resultante seria o mesmo que é adicionado atualmente às águas do planeta. O ritmo do aquecimento entre 1987 e 2019 foi quatro vezes e meio mais rápido do que entre 1955 e 1986.
“Os oceanos dizem-nos o quão rápido a Terra está a aquecer”, esclarece John Abraham da Universidade de St. Thomas, nos Estados Unidos, e um dos membros do grupo de investigação, que reuniu 14 cientistas de 11 institutos de todo o mundo. Em 2019, a temperatura média nos oceanos cresceu 0,075 graus face à média de 1981-2010.
O oceano terá absorvido cerca de 228 sextiliões (228 seguido de 21 zeros) de joules (unidade para medir energia térmica) de calor. Lijing Cheng, um dos autores do estudo, simplifica os números: “a quantidade de calor que colocámos nos oceanos do mundo nos últimos 25 anos é igual a 3,6 mil milhões de explosões de bombas atómicas em Hiroxima”.
Os valores não enganam e demonstram, segundo os investigadores, um “aquecimento irrefutável e acelerado” do planeta Terra, cujos principais culpados são mesmo os humanos. Os gases de efeitos de estufa, que advêm dos combustíveis fósseis, da destruição da floresta e de várias atividades humanas, contribuem todos os dias para o aumento da temperatura das águas.”É fundamental entender a rapidez com que as coisas estão a mudar”, acrescenta o professor universitário John Abraham.
Se no passado, o aquecimento global era sobretudo analisado consoante a temperatura do ar, este grupo de investigadores aponta os oceanos como uma fonte de conhecimento para melhorar os estudos e as análises de impacto ambiental. “Se se quiser entender o aquecimento global tem que se medir o aquecimento dos oceanos”, esclarece. Desde 1970 que 4% do calor do aquecimento global vai para a atmosfera, sendo o restante absorvido pelas águas da Terra.
Ainda assim, os investigadores reconhecem que a batalha contra a emergência climática não está perdida. Os autores do estudo publicado na “Advances In Atmospheric Sciences” apontam a utilização de energias renováveis nos próximos tempos como uma das soluções para salvar os oceanos e o planeta.
FONTE Rita Neves Costa JN.PT
FOTO AFP