Mais de um quarto da população mundial tem níveis de exercício abaixo do recomendado, conclui um estudo Organização Mundial da Saúde (OMS) que cruza dados de diferentes inquéritos para acompanhar a evolução da actividade física entre 2001 e 2016.
De acordo com os resultados publicados na revista Lancet, e tendo em conta os benefícios para a saúde física e mental do exercício, mais de 1,4 mil milhões de adultos “estão em risco de desenvolver ou exacerbar doenças ligadas à inactividade”.
As pessoas classificadas como inactivas fazem menos de 150 minutos de exercício moderado por semana, ou menos de 75 minutos de actividade física com “uma intensidade vigorosa”.
A análise inclui dados de 1,9 milhões de pessoas em 168 países, o que corresponde a 96% da população global. Em geral, o nível de exercício diminuiu ligeiramente entre 2001 e 2016 – a alteração explica-se com a subida de pessoas inactivas em países de altos rendimentos, como os Estados Unidos e o Reino Unido, onde a proporção passou de 32% para uma média de 37%. Já nos países de rendimentos mais baixos os níveis de actividade física insuficiente mantêm-se estáveis, nos 16%.
Portugal está ainda pior do que a média dos países considerados de alto rendimento, com mais de 40% dos adultos aquém dos valores de actividade recomendados para a saúde. Segundo os dados da OMS, 43,4% dos portugueses pratica insuficiente exercício (a média mundial é de 27,5%): as mulheres neste grupo são 48,5%; 37,5% é o valor de inactividade entre os homens.
Desigualdade entre homens e mulheres
A diferença encontrada em Portugal é uma tendência mundial: em 159 dos 168 países incluídos no estudo a prevalência de actividade física insuficiente é mais baixa nos homens do que nas mulheres. Em 65 países a diferença é de pelo menos 10 pontos percentuais, noutros nove chega aos 20 pontos.
As maiores diferenças estão no mundo árabe e muçulmano (Iraque, Arábia Saudita ou Irão), na América Latina e Caraíbas (Barbados ou Bahamas), Ásia Central e do Sul (Bangladesh é um dos exemplos) ou Norte de África, o que sugere uma combinação de questões culturais que limitam a prática de desporto às mulheres com mais tempo passado a cuidar dos filhos. A tendência é geral a quase todos os países, com excepção do Leste e Sudeste da Ásia.
Uma das formas de explicar as diferenças de actividade entre homens e mulheres, dizem os investigadores, “é avaliar a participação em diferentes domínios de actividade (no trabalho, casa, transportes ou tempo de lazer) e as diferentes intensidades dessa prática (moderada e vigorosa)”. Ora “anteriores estudos já indicam que as mulheres tendem a realizar menos actividades de lazer e mais actividades de baixa intensidade”.
Transição nos países de alto rendimento
Os peritos dizem que a diminuição de actividade física nos países de mais altos rendimentos se prende com a evolução para empregos e passatempos mais sedentários, ao mesmo tempo que foi crescendo o uso de transportes pessoas motorizados. Em países mais pobres as pessoas têm tendência a andar mais, tanto nas idas e vindas de casa para o emprego como no exercício que o próprio trabalho pode envolver (na agricultura, por exemplo).
Para combater esta tendência, os especialistas sugerem aos governos que criem e mantenham infra-estruturas que promovam a prática de desporto e aumentem o tempo que as pessoas passam a caminhar ou a andar de bicicleta.
Moçambique e Uganda são dois países onde as pessoas são mais activas, com apenas 6% de inactividade física.
Os benefícios da actividade física estão há muito comprovados e “incluem menores riscos de doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes e cancro da mama e do cólon”. Ao mesmo tempo, conhecem-se bem os “efeitos positivos na saúde mental, como o adiar dos sinais de demência e a contribuição para manter um peso saudável”.
Actualmente, mais de um quarto da população (27,5%) não faz actividade física suficiente – estimativas anteriores (baseada em menos inquéritos do que os cruzados pelo estudo agora divulgado) mostram que em 2010 eram 23,3% as pessoas aquém do exercício recomendado.
Os Estados-membros da OMS comprometeram-se a reduzir a prevalência de actividade física insuficiente em 10% até 2025 – é um dos nove objectivos para melhorar a prevenção e o tratamento de doenças não transmissíveis e os autores do estudo avisam desde sem alterações drásticas não será cumprido.
FONTE SOFIA LORENA PUBLICO.PT
FOTO ADRIANO MIRANDA