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“É provável uma ou mais ondas secundárias” de Covid-19

José Artur Paiva prescreve um fim gradual, "assimétrico em termos geográficos e monitorizado" do confinamento, que, ainda assim, não evitará "uma ou mais ondas secundárias" de Covid-19.

O diretor do programa para a Prevenção e Controlo de Infeções recomenda que os hospitais públicos, ao reativar a atividade clínica, encontrem novos espaços e aloquem profissionais de outros serviços à Medicina Intensiva para manter a capacidade de resposta ao surto.

Como vê a resposta dos hospitais públicos à pandemia?

Vejo-o e vivo-o diariamente, como um trabalho de planeamento e implementação notável, realizado em muito pouco tempo. Ao contrário da pandemia H1N1 de 2009-2010, tivemos muito pouco tempo para construir esta resposta. Há uma enorme capacitação dos serviços de Medicina Intensiva em todo o país, quase duplicando a capacidade em cerca de um mês e evitando o colapso do sistema, que se verificou noutros países. É admirável, porque sabemos que Portugal é dos países europeus com menor rácio de camas de Medicina Intensiva por população: 6,4 camas por 100 mil habitantes. A média europeia é de 11,5 camas.

Há casos de contágio por Covid nos doentes internados com outras patologias nos hospitais?

Não existe ainda uma definição de “Covid-19 adquirido em hospital”. É muito difícil determinar se os casos admitidos por outra patologia e com diagnóstico de Covid-19 feito durante o internamento hospitalar, após um teste negativo na admissão, resultam de transmissão dentro do hospital. O doente pode ter tido o contacto na fase pré-internamento. Outra razão plausível é o facto do teste inicial negativo corresponder a um falso negativo. É matéria que deve ser e está a ser estudada.

Maio é o mês adequado para aliviar as medidas restritivas e retomar as atividades?

Não é uma opção, é uma necessidade. O processo deve ser gradual, seletivo, assimétrico em termos geográficos e monitorizado. Gostaria que esse “desconfinamento” ocorresse apenas quando o número efetivo de reprodução fosse claramente inferior a 1. Nesta altura, está entre 0.9 e 1.2. A taxa de população imunizada é baixa e não sabemos qual a sustentabilidade dessa imunização. Partir de um ponto mais baixo permitir-nos-ia detetar o aumento de casos e modular a velocidade de “desconfinamento”, evitando a sobrecarga do sistema de saúde. Adicionalmente, para que o “desconfinamento” ocorra em segurança, é necessário ter controlada a situação nos lares que cuidam dos mais velhos e dos mais frágeis.

O uso de máscaras pela população é indispensável?

É necessário envolver a população neste novo período, como agente ativo do processo. O uso de máscara social nos espaços interiores com múltiplas pessoas é uma medida muito relevante, porque é efetiva e faz de cada cidadão um protagonista do processo. Gosto de chamar às máscaras usadas pela população de máscaras solidárias. Solidárias porque as usamos para proteger os outros. Esta medida deve adicionar-se ao distanciamento social, à etiqueta respiratória e à frequente higiene das mãos. Gostaria que esta mensagem fosse passada com mais clareza. Uma boa comunicação é fundamental ao sucesso do processo.

O fim do recolhimento pode agravar os efeitos da pandemia e aumentar significativamente o número de infetados?

É provável que o número de infetados aumente com o alívio do confinamento. Haverá, provavelmente, uma ou até mais de uma onda secundária. Devemos preparar o sistema de saúde para esse facto. É essencial uma estreita monitorização de indicadores da evolução da pandemia e da resposta do sistema de saúde, de forma a detetar precocemente a necessidade de parar ou de modular o “desconfinamento”.

Os hospitais estão mais preparados para essas ondas?

É muito importante capacitar o sistema de saúde para uma resposta dual, que permita a retoma de atividades clínicas suspensas ou diminuídas, repondo a capacidade de diagnóstico e terapêutica em múltiplas áreas, desde a oncologia às doenças cardiovasculares, e, simultaneamente, a absorção de ondas secundárias de Covid-19. Para que isto seja possível, é necessário libertar blocos e áreas de recobro pós-anestésico, que estiveram ocupadas pela Medicina Intensiva na resposta ao doente crítico Covid-19, sem reduzir a capacidade desta especialidade. Deverão encontrar-se outros espaços e reforçá-la em termos de recursos humanos, médicos e enfermeiros. A Medicina Intensiva é essencial à redução da taxa de letalidade da doença e não pode voltar aos rácios pré-pandemia. Deve manter um rácio superior a 11 camas por 100 mil habitantes.

Como pode fazer-se o reforço?

De três maneiras. A primeira maneira é através de “deployment”. Cada hospital avaliará os profissionais de saúde que trabalham noutros serviços, mas têm vocação para Medicina Intensiva, alocando-os a essa área. Em segundo lugar, quando forem abertas as vagas de colocação de especialistas, deve considerar-se significativamente as vagas de Medicina Interna. A Ordem dos Médicos já solicitou ao Ministério da Saúde para reativar os exames finais de internato, para que possa iniciar-se o concurso de colocação de especialistas. São as maneiras mais rápidas de reforço das equipas.

E a terceira maneira?

A terceira é mais lenta. Passa por aumentar o número de vagas de internato de Medicina Interna. É muito importante fazer este trabalho agora, preparando a retoma da atividade normal nos hospitais.

 

FONTE Carla Sofia Luz JN.PT

FOTO Lisa Soares / Global Imagens

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