e nas legislativas de 10 de março a margem de diferença entre os resultados da vencedora Aliança Democrática (AD, coligação PSD/PPD com CDS) e o Partido Socialista (PS) tinha sido curta, a das Europeias deste domingo foi ainda fina, de apenas 38,5 mil votos e menos de um ponto percentual. Desta vez, no entanto, os vencedores foram os socialistas de Pedro Nuno Santos. A coligação de centro-direita liderada por Luís Montenegro ficou do lado dos derrotados, mas o desaire não foi pesado.
No pódio ficou ainda o Chega, que apesar da entrada na arena de representação europeia, sofreu uma derrota porque ficou aquém dos seus próprios objetivos e das expectativas que criou com o resultado estrondoso em março. A Iniciativa Liberal (IL) ficou em quarto, com o mesmo número de lugares que o Chega (dois), mas foi um dos vencedores da noite, com a eleição de dois eurodeputados e colado a Ventura.
Na esquerda, Bloco e CDU celebraram com alívio a manutenção da presença em Estrasburgo, embora com metade dos lugares do último mandato, enquanto o PAN não atingiu esse objetivo e o Livre desiludiu após o brilharete das legislativas.
Os vencedores
Pedro Nuno Santos e Marta Temido (PS)
Às 20h00, as sondagens à boca das urnas de quatro canais de televisão apontavam para um empate técnico entre o PS e AD, mas com uma ligeira vantagem para os socialistas, algo que se acabaria por verificar a partir das 22h00, quando os resultados provisórios foram sendo revelados. Apesar da margem curta, a vitória de Pedro Nuno Santos e da cabeça-de-lista Marta Temido é inegável, até porque depois das legislativas e o cenário de combate político no Parlamento, era imprescindível para o PS não sofrer nova derrota nas urnas.
O secretário-geral do PS ainda aproveitou para celebrar que “a extrema-direita em Portugal baixou” e que “quando se dizia que o Chega vinha para ficar aí vêm as Europeias para nos provar que não é assim”. Olhando para a frente, disse que o partido não quer ser visto como fator de “instabilidade política”, sinalizando que poderá não chumbar o Orçamento do Estado para 2025.
Para Marta Temido, depois de um período difícil à frente do ministério da Saúde (que culminou com uma saída repentina) e uma campanha nem sempre muito feliz (por exemplo nos debates), o resultado oferece uma nova etapa, ou mesmo etapas, na carreira política.
Rui Rocha e João Cotrim de Figueiredo (IL)
“Vou medir bem as palavras: que grande vitória da Iniciativa Liberal, 9,1% dos votos e dois eurodeputados”, afirmou João Cotrim de Figueiredo, cabeça de lista dos liberais, claramente esfusiante com o resultado. O ex-líder dos liberais trouxe um primeiro resultado positivo no mandato do sucessor, Rui Rocha, após o resultado neutro das legislativas, quando o partido não subiu nem desceu na presença na Assembleia da República.
Cotrim de Figueiredo considerou que a IL conseguiu “desmentir aqueles velhos do Restelo que diziam que o liberalismo não tinha hipótese em Portugal”. “Tem, sim. E hoje provámos e crescemos muito e vamos continuar a crescer porque nós sabemos e vamos gritar todos que o liberalismo funciona e faz falta a Portugal”, defendeu.
Os derrotados
Luís Montenegro e Sebastião Bugalho (AD)
Uma derrota com sabor a empate. Luís Montenegro admitiu derrota quando subiu ao palco do Hotel Sana em Lisboa: “Quando há eleições cada força política tem os seus objetivos e o objetivo da AD é sempre ter pelo menos mais um voto do que outra força partidária. Quero assumir que não cumprimos esse objetivo e quero, por isso, felicitar o PS o seu secretário-geral e a sua cabeça de lista”.
No entanto, a margem da derrota foi tão curta que permitiu ao presidente do PSD e líder do Governo virar o discurso para um tom mais positivo, referindo-se ao “alento para prosseguir a caminhada que nos trouxe até aqui” como a vitória nos Açores, duas vezes na Madeira e nas últimas legislativas. Aproveitou ainda para declarar o apoio da AD e do Governo ao seu antecessor António Costa para o cargo de presidente do Conselho Europeu, se este decidir ser candidato, numa jogada de antecipação.
Para Sebastião Bugalho, a noite não foi de derrota, pois o resultado premeia uma forte campanha após uma nomeação que era, no mínimo, de elevado risco.
André Ventura e António Tanger Corrêa (Chega)
Um terceiro lugar, novamente, 9,79% dos votos, 386 mil votos e dois lugares na Europa. Em qualquer outra circunstância isto colocaria um partido como o Chega no campo dos vencedores. Mas a própria ambição de chegar aos cinco eurodeputados e de repetir o resultado de 18% em março para afirmar o crescimento torna o resultado de domingo num balde de água fria.
“Hoje não foi um dia para o Chega”, reconheceu António Tanger Corrêa, cabeça de lista do Chega. André Ventura ainda tentou salientar alguns aspetos positivos, como a manutenção como terceira força política, mas o tom tinha sido definido horas antes, quando admitira que o resultado ia ficar aquém do desejado.
Bloco de Esquerda e CDU
As celebrações efusivas nas sedes do Bloco e da CDU, com poucos minutos de diferença, das eleições de Catarina Martins e João Oliveira, respetivamente, expressavam principalmente alívio. O cenário de perder dois eurodeputados e sair do Parlamento Europeu tinha sido real para os dois partidos quando as televisões transmitiram as sondagens. Mas as quedas de 9,82% para 4,25%, no caso dos bloquistas, e de 6,19% para 4,12%, no dos comunistas, não podem ser vistas de que qualquer outra forma senão derrotas claras.
Livre e PAN
Depois de conquistar quatro lugares no Parlamento em março, o Livre não conseguiu aproveitar o momentum para enviar um representante a Estrasburgo, após uma campanha em que o bom desempenho inicial do cabeça de lista Francisco Paupério foi ensombrado pelas críticas sobre a escassa participação do líder do partido, Rui Tavares.
O PAN sai como um dos principais derrotados da noite eleitoral. Não só não conseguiu recuperar o lugar perdido no Parlamento Europeu quando Francisco Guerreiro se desfiliou do partido, desceu de 5,08% dos votos para 1,22% e ficou atrás do ADN.
Artigo de Shrikesh Laxmidas